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Prasterona

A prasterona, também conhecida como dehidroepiandrosterona, juntamente com sua forma sulfatada, sulfato de
dehidroepiandrosterona, são os hormônios esteróides mais abundantes no organismo humano e são importantes
precursores na biossíntese de andrógenos e estrógenos.1
Além de ser substrato para outros esteróides, a dehidroepiandrosterona em níveis fisiológicos está implicada em uma
série de outras funções no organismo, incluindo bem-estar psicológico, desempenho cognitivo e condicionamento físico – como força muscular e densidade óssea – além de ações anti-inflamatórias e imunomoduladoras. 2–4

ASPECTOS FISIOLÓGICOS

A síntese de dehidroepiandrosterona ocorre no córtex das glândulas adrenais, especialmente na zona reticular, em
resposta ao estímulo hormonal do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Assim como os demais hormônios esteroidais, a etapa inicial do processo de biossíntese de dehidroepiandrosterona, também conhecido como esteroidogênese, compreende a conversão do colesterol em pregnenolona, reação que ocorre em nível mitocondrial.5
A dehidroepiandrosterona circulante encontra-se predominantemente como sulfato de dehidroepiandrosterona, forma
hidrofílica de armazenamento. A dehidroepiandrosterona é rapidamente metabolizada e excretada do sangue possuindo
um tempo de meia vida curto de aproximadamente 1 a 3 horas, enquanto que o sulfato de dehidroepiandrosterona, devido
à maior afinidade com a albumina, é metabolizado muito mais lentamente, possuindo tempo de meia vida de 10 a 20
horas. O sulfato dehidroepiandrosterona pode ser convertido novamente à dehidroepiandrosterona – forma biologicamente ativa do hormônio – no fígado, rins e gônadas e então metabolizada à testosterona, estrógenos e outros esteróides, de acordo com a expressão de enzimas específicas de cada tecido. Alguns tecidos, como o cérebro, têm se mostrado responsivos também à forma sulfatada. 6 O equilíbrio entre o armazenamento e metabolismo da dehidroepiandrosterona é determinado pela ação das enzimas sulfatases e sulfohidrolases. 2,7


O pico de secreção de dehidroepiandrosterona ocorre no início da vida adulta, entre os 20 e 25 anos de idade e após esse período as concentrações plasmáticas decaem progressivamente, de forma que aos 70 anos, a produção seja entre 10% e 20% daquela encontrada em adultos jovens. Algumas diferenças entre gêneros relacionadas aos níveis de dehidroepiandrosterona e sulfato de dehidroepiandrosterona circulantes tem sido apontadas, especialmente em mulheres na pós menopausa, na qual a dehidroepiandrosterona se torna o principal precursor dos esteróides sexuais. 8–10 Neste sentido, nos últimos anos a literatura tem evidenciado os benefícios da suplementação de prasterona em diferentes populações.
MECANISMO DE AÇÃO
Os mecanismos exatos pelos quais a dehidroepiandrosterona exerce suas ações ainda não foram completamente elucidados. Contudo, tem sido demonstrado que a dehidroepiandrosterona age indiretamente em tecidos-alvos como precursora para a formação dos hormônios esteróides, como estrógenos e testosterona, sendo esta conversão relacionada com as enzimas esteroidogênicas expressas no tecido. Dos andrógenos totais produzidos na próstata de homens adultos, 50% derivam deste precursor adrenal, ao passo que em mulheres, essa relação é de 75% dos estrógenos para período anterior a menopausa e 100% na pós menopausa. 3
Efeitos diretos da dehidroepiandrosterona também têm sido descritos, uma vez que a dehidroepiandrosterona tem sido capaz de desencadear mecanismos de sinalização celular pela ligação aos receptores de membrana, receptores celulares não específicos ou ainda pela interação com proteínas plasmáticas. Estes achados evidenciam o conceito de que alguns dos efeitos da dehidroepiandrosterona são independentes da sua conversão a andrógenos ou estrógenos. Como exemplo, podem ser citadas as ações da dehidroepiandrosterona como neuroesteróide, exercendo efeitos neuroprotetores e neurotróficos ao modular os receptores dos sistemas de neurotransmissão.
Além disso, efeitos sobre a função de células endoteliais com atividade vasodilatadora e a interação com os diferentes tipos celulares e enzimas associados ao sistema imune, também tem sido descritos como respostas diretas estritamente relacionadas à dehidroepiandrosterona no organismo.18,22

MEMÓRIA E E HUMOR EM HOMENS SAUDÁVEIS

Vinte e quatro homens saudáveis, com idade entre 18 e 40 anos, receberam uma dose de 150mg de prasterona ou placebo 2 vezes ao dia durante 7 dias e os foram avaliados os efeitos sobre o humor e a memória usando testes específicos, assim como os níveis de cortisol salivar. Foi possível observar uma melhora no humor e na memória, assim como a identificação da área cerebral recrutada para a recuperação da memória ativada mais precocemente no grupo que recebeu prasterona em relação ao grupo placebo. Os níveis de cortisol noturno também reduziram nos indivíduos que receberam prasterona. 23

RESTAURAÇÃO DOS NÍVEIS FISIOLÓGICOS EM IDOSOS

O efeito da suplementação de prasterona foi avaliado em 280 mulheres e homens com idade entre 60 e 79 anos
de idade que receberam 50 mg ao dia durante um ano. Os níveis de dehidroepiandrosterona foram restaurados aos níveis encontrados em adultos jovens em ambos os sexos. Nas mulheres, foi possível também observar uma elevação
nos níveis de testosterona e estradiol, que refletiram ainda em melhora do turnover ósseo, com diminuição da atividade dos osteoclastos, aumento da libido e melhora nos aspectos cutâneos, como hidratação, espessura e uniformidade. Não foram observados efeitos indesejáveis da administração desta dose ao longo de um ano. 24

A administração de prasterona 100 mg durante 6 meses em homens e mulheres com idade entre 60 e 65 anos demonstrou reparar os decréscimos dos níveis circulantes de dehidroepiandrosterona relacionados à idade. Diferenças
nos parâmetros avaliados em resposta à administração de dehidroepiandrosterona foram refletidas pelo gênero, de
forma que em mulheres foi possível observar aumentos nos níveis de testosterona, androstenediona e IGF-1, ao passo
que em homens as alterações na composição corporal foram mais evidentes, como o aumento da massa magra e da
força muscular e redução do percentual de gordura corporal, mesmo sendo comum às mulheres o aumento no IGF-1. 25
densidade mineral óssea e a composição corporal foram avaliadas em mulheres e homens com idade média de 74 anos que receberam 50 mg de prasterona durante 6 meses. A reposição de prasterona foi capaz de restaurar os níveis baixos de dehidroepiandrosterona em decorrência da idade, bem como aumentar a densidade mineral óssea avaliada na região da lombar, reduzindo gordura corporal e aumentando os níveis de massa livre de gordura. O tratamento foi bem tolerado pelos indivíduos, sem a ocorrência de efeitos adversos significativos. 26

A suplementação da prasterona 50 mg em associação à vitamina D 650 UI e cálcio 700 mg foi avaliada em homens
e mulheres com idades entre 65 e 75 anos durante dois anos sobre parâmetros como densidade mineral óssea
da coluna lombar e marcadores de remodelação óssea, bem como as concentrações de hormônios. Somente em mulheres foi possível observar um aumento na densidade mineral óssea na coluna e uma redução nos marcadores de remodelação óssea ao longo do estudo. A testosterona e o estradiol aumentaram em ambos os gêneros, e nas mulheres houve ainda um aumento na concentração sérica de IGF-1. A prasterona quando associada à vitamina D e o cálcio pode
prevenir e melhorar a osteopenia em mulheres. 27

O efeito da administração de 50 mg ao dia de prasterona foi avaliada sobre a função cognitiva de 24 mulheres na pós menopausa, com idade entre 55 e 80 anos. Além das avaliações relacionadas às tarefas mnemônicas, foram quantificados os níveis séricos de dehidroepiandrosterona, sulfato de dehidroepiandrosterona, testosterona, estrona e cortisol. A administração de prasterona aumentou os níveis séricos dos parâmetros hormonais, exceto o cortisol, bem como melhorou o desempenho cognitivo frente às tarefas executadas no estudo. 28

Em mulheres idosas, com idade entre 65 e 90 anos, que apresentavam comprometimento cognitivo leve a moderado detectado através de ferramentas de avaliação do desempenho cognitivo, a administração de 25 mg ao dia de prasterona por seis meses, foi capaz de aumentar os escores cognitivos, principalmente fluência verbal,
melhorando também o desempenho das atividades básicas de vida diária. 29

A suplementação com prasterona foi capaz de reduzir significativamente a adiposidade abdominal, melhorando também a sensibilidade à insulina, assim como reduzindo os níveis plasmáticos de triglicerídeos e a expressão de citocinas inflamatórias, quando avaliada em homens e mulheres com idade entre 65 e 75 anos na dose de 50 mg ao dia durante 12 meses. Os mecanismos subjacentes a este processo podem estar relacionados à ativação direta do PPARα – um fator de transcrição nuclear envolvido na regulação do metabolismo de lipídios e da inflamação – pela prasterona e que é comum aos fibratos utilizados clinicamente no manejo das hipertrigliciridemias, sem a ocorrência dos efeitos colaterais característicos. 30

Em idosos saudáveis com faixa etária entre 60 a 79 anos e que apresentam níveis relativamente baixos de dehidroepiandrosterona associados ao envelhecimento fisiológico, a dose de 50 mg ao dia demonstrou ser segura
e potencialmente eficaz. 31

SAÚDE CARDIOVASCULAR

A rigidez arterial é um fenômeno complexo caracterizado pela diminuição da complacência das grandes artérias que
ocorre com o envelhecimento, assim como a diminuição dos níveis circulantes de dehidroepiandrosterona. Neste
sentido, a administração de 50 mg de prasterona a homens e mulheres entre 65 e 75 anos, demonstrou reverter em
parte esta condição, possivelmente por mecanismos anti-inflamatórios, reduzindo este fator de risco para o
desenvolvimento de doenças cardiovasculares.30

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